CONTAGEM REGRESSIVA
Casamento real divide o coração dos britânicos
Conheça os ganhadores e perdedores desta festa. Por Val Oliveira
Londres — Nada como um casamento real para despertar o espírito patriótico e festivo dos britânicos em tempos de arrocho fiscal. Enquanto o príncipe William e Catherine Middleton se preparam para subir ao altar da Abadia de Westminster hoje, às 11h(7h horário de Brasília), bandeiras, balões e uma parafernália de souveniers com os semblantes do jovem e apaixonado casal decoram (ou emporcalham) a capital britânica, dependendo do ponto de vista.
Nas ruas, nos pubs e nos parques de Londres, o clima já é de festa. Mais de 5 mil celebrações de rua já estão confirmadas e milhões de expectadores do mundo todo são esperados nos arredores do Palácio de Buckingham para celebrar o maior evento social desde o casamento do príncipe Charles e da princesa Diana, em 1981.
Uma série de fatores sociais, políticos e históricos dão um tom de importância à ocasião e justificam, de certa forma, o enorme interesse gerado pelo evento, tanto no âmbito doméstico quanto internacional.
Pela primeira vez na história da monarquia, um ar high-tech paira sob a tão tradicional realeza britânica. A cerimônia de amanhã será transmitida e comentada ao vivo pelo site Youtube, proporcionando expectadores do mundo todo a chance de “fazer parte” deste tão aguardado e “guardado a sete chaves” evento.
A tão esperada data do casamento foi anunciada primeiramente no Twitter, e a família real também tem uma página no site social Facebook. Acredita-se que os próprios membros da família real devem postar comentários em tempo real durante a cerimônia, levando blogistas e entusiastas a acreditar que o casamento poderá se tornar o maior acontecimento da internet nesta década.
O segundo elemento que acrescenta uma dose de “conto de fadas” ao evento é certamente o status de “cidadã comum”, da noiva em questão. Desde o anúncio do casamento em novembro, a jovem de classe média que fisgou o coração de um dos solteiros mais disputados do Reino Unido, se tornaria um dos rostos mais reconhecidos do mundo e uma ícone da moda.
Kate também conquistou um lugar no coração dos britânicos como uma possível “substituta” da idolatrada “Lady Di”. Com um semblante tranquilo, postura elegante, beleza clássica, sorriso encantador e uma certa inclinação por projetos/causas sociais, a referência à falecida princesa Diana é indispensável.
Esbanjando simpatia–principalmente com a constante presença da imprensa–, a futura rainha da Inglaterra deixará certamente uma legião de solteiras desapontadas. Porém, a chegada da “simples” Kate ao círculo real injetará uma dose de modernidade e “realidade” a tão tradicional família real.
O termo “plebeia” nao seria exatamente o sinônimo mais apropriado neste caso, já que a família Middleton desfruta de abastado poder aquisitivo. Porém, as raízes familiares de “working class” dos Middletons amoleceu o coração dos britânicos e gerou uma simpatia enorme pela nova integrante da realeza.
Antes da abertura da empresa “Party Pieces” em 1987, que vende artigos para festas e decorações e que posteriormente renderia milhões à família Middleton, a mãe de Kate, Carol Middleton, trabalhava como aeromoça. O pai da noiva, Michael Francis Middleton, também dedicou um tempo da carreira à aviação, primeiro como atendente de bordo e depois como despachador de voos pela compania British Airways.
Evento ocorre em data oportuna
Ainda amargando as consequências de uma das piores crises financeiras desde a década de 70, a escolha da data do casório não foi uma mera coincidência. Em meio a um momento sensível para a economia (vale lembrar que a população ainda está engolindo a seco o pacote de austeridade proposto pelo novo governo nos últimos meses), uma celebração nacional não poderia ter vindo em melhor hora.
Para a organizadora de eventos e empresária Caroline Lumgair-Georges, uma ocasião como esta certamente traz esperança e otimismo numa época de desastres naturais e histórias trágicas e cínicas. “Num mundo de crescente estatísticas de casamentos que não dão certo, as pessoas sinceramente desejam ao casal muito sucesso e gostariam que tivessem uma vida cheia de alegrias e felicidades. Kate é um ótimo exemplo para a geração jovem e parece se comportar com muita graça e humildade”, completa.
Existe também a questão da tradição em si. Num país imerso em tradições e com estima pela monarquia, a família real ainda exerce uma inegável fascinação na mente de milhares e enriquece os cofres da indústria do turismo. “Independente de se gostar da realeza ou não, a Rainha (Elisabeth) em particular ainda representa um símbolo, e é por isso que tanta gente ainda é fascinada por eventos como este. Tais ocasiões representam um senso de tradição e identidade nacional” revela a inglesa Ruma Mandal.
Hierarquia
O fato de William ser o segundo na linha de sucessão ao trono britânico sem dúvida aumenta a importância da ocasião. Uma pesquisa realizada pelo site de comparação de preços, MoneySupermarket, revelou que quase 16 milhões de britânicos (34% da população) participarão da celebração nacional de uma maneira ou de outra, enquanto 67% pretendem assistir o casamento pela televisão.
Entre os milhares de entusiastas que presenciarão o beijo do novo casal real na varanda do Palácio de Buckingham, brasileiros marcam presença.
“Eu acho super divertido. É uma festa incrível que pode até ser comparada com o carnaval. Pessoas do mundo todo estão aqui porque é um evento único. Não vejo a hora de estar celebrando e tirando fotos. Não temos isso no Brasil então acho uma oportunidade única presenciar este evento histórico”, afirmou a jornalista e curadora de arte Caroline Menezes.
E para quem acha que o interesse gerado pelo evento é exclusivamente da ala feminina, com a palavra, os homens: “Este evento é certamente um marco histórico. Estamos simplesmente falando de uma das monarquias mais tradicionais do mundo, e o casal William e Kate vem para dar um novo significado à palavra paixão e realeza. Esse significado foi certamente ofuscado por décadas de traições e casamentos arranjados” afirma o administrador de empresas, Nilton Bibiano.
Celebração divide o coração dos britanicos – conheça os ganhadores e perdedores desta ocasião
O evento do século também promete aquecer a economia. Fábricas de souvenirs, produtores de champagne, hotéis, pubs e restaurantes parecem ser os grandes ganhadores desta festa.
Souveniers comemorativos e artigos de festa estão voando das pratilheiras. Tesco, uma das maiores redes de supermercados da Inglaterra diz ter vendido 200 mil pacotes de guardanapos com a bandeira nacional, pratos e copos plásticos. De acordo com a Associação Britânica de Cerveja e Pubs, a combinação do feriado nacional com o casamento deve gerar um lucro de £ 600 milhões.
O comércio espera um lucro na casa dos £ 500 milhoes. Hotéis localizados na áerea central da capital estão lotados e restaurantes e bares esperam um movimento dobrado amanhã. Milhares de festas de rua também irão movimentar a indústria da bebida.
E os perdedores?
E como todo bom conto de fadas exige uma bruxa má, nem todo mundo estará brindando nesta sexta-feira. Um elemento que promete ofuscar o sucesso e glamour do evento é o rombo que deixará no bolso dos contribuintes em época de cortes e desemprego acelerado.
Para muitos britânicos, a monarquia é nada menos que um símbolo de riqueza e esbanjo numa época sensível para o país. Enquanto milhares de famílias sofrem com a falta de empregos, cortes propostos pelo governo e o aumento das mensalidades das universidades, o custo e a logística envolvida no evento não condizem com a realidade da população.
“Eu acho um desperdício de dinheiro público. Entendo que a monarquia possa ser boa para o turismo, porém, a existência dela não muda nada no meu dia a dia. Além disso, o fato de que 5 mil policiais estarão de plantão numa área só significa que outras partes da cidade estarão desprotegidas e a mercê dos bandidos”, afirmou o garçom Stuart Healey, de 24 anos.
Possibilidade de ataques terroristas e demonstrações populares pairam no ar
De acordo com a Scotland Yard, o enorme esquema de segurança será necessário devido a possiveis ataques terroristas e demonstrações populares durante o evento, principalmente vindo de movimentos antimonarquia e anarquistas como o Muslims Against Crusades (Muçulmanos contra as Cruzadas) e a English Defence League, de extrema-direita.
Há também a possibilidade de que estudantes e grupos de manifestantes usem a mídia internacional presente na capital para chamar a atenção do mundo para a atual crise financeira vivida pelo país.


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