TERRORISMO

Bin Laden era hóspede do Paquistão?

A cidade onde o líder da Al Qaeda morava, Abbotabad, é reduto do Exército paquistanês e abriga a maior academia militar do país

Veja alguns dos fatos mais relevantes sobre a descoberta do esconderijo e eventual execução de Osama bin Laden no Paquistão.

Abbottabad, o ‘esconderijo’ de Bin Laden

A cidade de Abbottabad é essencialmente um reduto militar no Paquistão, nas colinas ao norte da capital, Islamabad, em uma área onde grande parte das terras é controlada pelo Exército paquistanês e militares aposentados. A cidade fica na região que costumava ser chamada de Província da Fronteira Noroeste, no ponto entre a Caxemira paquistanesa e a cidade fronteiriça de Peshawar.

Abbottabad é mais conhecida por abrigar a Academia Militar do Paquistão, a principal faculdade de formação do Exército paquistanês, equivalente a West Point, nos EUA. Olhando mapas e fotos de satélite, é possível ver a vasta extensão da academia não muito longe do local em que a mansão de milhões de dólares fortemente protegida onde Bin Laden morava foi construída, em 2005.

Os mapas mostram pedaços de terra nas proximidades demarcadas como “áreas restritas”, indicando que estão sob controle militar. É difícil acreditar que uma mansão daquele tamanho poderia ter sido construída e ocupada por Bin Laden por seis anos sem ter chamado a atenção de alguém do Exército paquistanês.  

As primeiras evidências circunstanciais sugerem que o oposto é mais provável: Bin Laden estava efetivamente sendo hospedado pelo Estado paquistanês. O Paquistão vai negar isso, e é possível que nenhuma evidência mais convincente chegue à superfície para provar o oposto. Mas algumas perguntas precisam de respostas: a quem pertencia o terreno em que a casa foi construída? Como a propriedade foi adquirida, e de quem? Quem projetou a casa, que parece ter sido propositadamente construída para proteger Bin Laden? Quem foi o empreiteiro? Quem instalou o sistema de segurança? Quem trabalha lá? Quem visitou a casa, quantas vezes, e com que finalidade?

Estas questões não são relevantes apenas para a plena realização da justiça para as vítimas do 11 de setembro. Elas também são relevantes para as outras vítimas de atentados terroristas realizados ou inspirados por Bin Laden enquanto ele vivia naquela casa, entre eles paquistaneses, afegãos, indianos, jordanianos e britânicos.

O governo dos Estados Unidos provavelmente vai subestimar qualquer prova da culpabilidade do Estado paquistanês em abrigar Bin Laden. Há muitos outros problemas para resolver em Islamabad e nas proximidades do quartel-general do Exército norte-americano, em Rawalpindi, como por exemplo, encontrar uma forma de sair do Afeganistão — tarefa que exige o maior grau possível de cooperação do Paquistão.

Quem morava com Bin Laden?

Os relatórios iniciais sugerem que Bin Laden estava vivendo com sua mulher mais nova. Bin Laden, que tinha 53 anos de idade, sempre viveu rodeado pela família, por isso não é surpreendente que ele tenha conseguido fazê-lo mesmo como um fugitivo. Ele casou pelo menos quatro vezes. Sua primeira mulher foi uma prima da Síria, e a terceira e a segunda eram mulheres sauditas muito bem educadas. Sua quarta mulher era uma adolescente iemenita, com quem se casou por correspondência enquanto vivia no Afeganistão durante a década de noventa, segundo o relato de um guarda-costas de Bin Laden no Iêmen.

As primeiras três mulheres de Bin Laden teriam voltado para casa antes ou imediatamente após os ataques de 11 de setembro, onde permaneceram sem contato com Obama. A mais nova seguiu para o Paquistão para viver com o marido, que também deve ter se casado com mais uma ou duas mulheres locais.

Aparentemente, um dos filhos adultos de Bin Laden também foi morto no ataque (Osama tem mais de uma dúzia de filhos). Alguns retornaram para a Arábia Saudita, mas outros têm aparecido em vídeos com o pai, prometendo lutar ao lado dele. É concebível que um de seus filhos assuma a liderança da Al Qaeda nos próximos anos.

O que a morte de Bin Laden significa para a Al Qaeda

A perda de um líder carismático e simbólico cuja própria sobrevivência engrandecia sua reputação é significativa. Além disso, a Al Qaeda nunca teve que passar por uma sucessão urgente. A organização foi fundada há mais de 20 anos, no verão de 1988, e nas sessões iniciais Bin Laden foi nomeado emir e Ayman al-Zawahiri, vice-emir. É notável que, apesar de todos os líderes mortos, a Al Qaeda conseguiu preservar os mesmos dois líderes no poder por tanto tempo.