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A próxima Califórnia

sábado, 28 de maio de 2011

AUSTRÁLIA

A próxima Califórnia

Período econômico extremamente favorável pode marcar momento de transformação profunda do país

Imagine um país de cerca de 25 milhões de pessoas, democrático, tolerante, receptivo aos imigrantes, socialmente harmônico, politicamente estável e bem sucedido economicamente; e com grandes praias. Soa como a Califórnia de 30 anos atrás, mas é a Austrália dos dias atuais. No entanto, a Austrália pode se tornar uma espécie de Califórnia – e talvez uma versão mais bem sucedida do “estado dourado”.
A Austrália já é uma economia bem sucedida, que, ao contrário da Califórnia, evitou a recessão desde 1991, e tem um sistema político que a serve bem, colhendo os benefícios de uma febre por recursos que lhe dá grandes quantidades de dinheiro com as exportações para Ásia. É o país do mundo rico com a melhor qualidade de vida, segundo um relatório recente da OCDE, e, como o apetite asiático por minério de ferro, carvão gás natural e carneiro parece não acabar, a febre pelos produtos australianos deve continuar por um bom tempo, mesmo que diminua para uma forma mais suave de boom. No entanto, o sucesso econômico do país está muito mais ligado aos recentes fluxos de capital do que a políticas aplicadas nos 20 anos entre 1983 e 2003. Uma economia tradicional e gestões corretas realmente fizeram maravilhas pela Austrália.

Fogo de palha?

Australianos agora devem decidir em que espécie de país querem que seus filhos cresçam. Eles podem aproveitar sua prosperidade, desperdiçar o que não consomem e esperar pelo que o futuro trará; ou podem ativamente criar o tipo de sociedade que outras nações invejam e tentam emular. A Califórnia, para muitos, ainda o estado do futuro, pode ter algumas lições a ensinar.  Sua história também inclui uma corrida do ouro, um boom energético e o desenvolvimento de um próspero setor agrícola. A Califórnia colheu os frutos de um excelente sistema de educação universitária, e as indústrias de conhecimento que essa educação gerou. Se a Austrália quiser atingir essa meta, terá também que destravar todo o potencial cerebral de seus cidadãos.
A Austrália não pode, é claro, fazer exatamente o que a Califórnia fez (como criar uma indústria aeroespacial e mandar a conta para o Pentágono). Nem gostaria de fazê-lo: graças ao seu vício em iniciativas populares, a política californiana é uma desgraça. Mas a Austrália poderia fazer mais para desenvolver o tipo de sociedade aberta dinâmica e criativa que tornou a Califórnia famosa, atraindo ondas de imigrantes energéticos, não apenas de outras partes dos Estados Unidos, mas de todo o mundo. Tais sociedades, aquelas nas quais jovens e empresários querem viver, não podem ser conjuradas da noite para o dia por um único agente, muito menos pelo governo. Elas são criadas pela alquimia de artistas, empresários, filantropos, instituições civis e governo numa combinação certa na hora certa. E para a Austrália, economicamente forte como nunca antes, esse certamente é o momento.
O que é necessário para fazer com que essa mistura funcione? Embora o governo não deva comandar a química, ele deve criar as condições para que ela ocorra. Isso significa garantir que a economia se mantenha aberta, flexível e resiliente, capaz de suportar os tempos difíceis depois que o boom se for (um fundo de riqueza governamental ajudaria nesse caso). Significa também manter uma alta taxa de imigração (que começou a cair nos últimos dois anos). Significa, acima de tudo, nutrir um senso de autoconfiança nas população para criar a mistura de orgulho cívico, filantropia e investimentos financeiros que margeia o sucesso de lugares como a Califórnia.
Muitos australianos não parecem perceber que vivem em um país inusitadamente bem sucedido. Pouco acostumados a expansões econômicas contínuas – muitos são jovens demais para se lembrarem da recessão – eles tendem a reclamar do preço dos imóveis, do desemprego que atinge 5%, ou de problemas que uma alta taxa de câmbio causa à indústria. Alguns australianos falam palavras difíceis, mas na verdade pensam pequeno, algo extremamente comum entre os políticos do país, que costumam ser relutantes em tomar a dianteira na legislação – como no caso das mudanças climáticas, por exemplo – preferindo seguir as medidas adotadas pelos países grandes. Na busca por uma política relativa às emissões de carbono, os dois principais partidos voltaram atrás e mudaram suas opiniões e seus líderes, deixando os eleitores divididos e confusos. Não há muita dúvida de que se os Estados Unidos chegarem a uma decisão sobre o assunto, a Austrália a adotará logo em seguida.
Seus atuais líderes políticos, com algumas exceções, são talvez o feito menos impressionante da Austrália atual. Justamente no momento em que seu país tem a chance de se tornar influente no mundo, eles se mostram introvertidos e incapazes de compreender o cenário. Poucas leis importantes foram aprovadas desde 2003. Uma reforma do mercado de trabalho introduzida pelos liberais foi parcialmente rejeitada pelos trabalhistas. Uma proposta fiscal sobre as mineradoras foi terrivelmente mal conduzida (também pelos trabalhistas) e resultou em outra proposta pior ainda. Todas as tentativas de leis sobre mudanças climáticas falharam. A primeira-ministra, Julia Gillard, do Partido Trabalhista, admite que não é estimulada pela política externa. O líder da oposição, Tony Abbott, se inspira no movimento norte-americano do Tea-Party, lutando contra um imposto sobre as emissões de carbono com uma “revolta popular”, baseada principalmente em insultos. Ao invés de destacar os grandes benefícios da imigração – o crescimento populacional é responsável por cerca de dois quintos do aumento do PIB real nos últimos 40 anos — os dois partidos apelam de maneira constrangedora para o medo xenofóbico de refugiados em busca de asilo surgindo em barcos no litoral do país.

Um futuro dourado?

Nada disso fará com que os australianos se orgulhem de seus feitos e progridam a partir deles. Temas melhores para os políticos seriam seus planos para desenvolver universidades de ponta, apoiar as artes, promover o design urbano e estimular novas indústrias variadas, desde energia alternativa à água dessalinizada. Todos esses projetos existem, mas poucos vão adiante. Embora o prédio mais conhecido do país seja um teatro de ópera, as artes ainda não recebem o patrocínio governamental que merecem. No entanto, a política mais útil a buscar seria a da educação, em especial a educação universitária. As universidades australianas, assim como o vinho do país, são decentes e confiáveis, mas estão longe de serem excelentes. No entanto, trabalhadores instruídos são essenciais para uma economia competitiva em serviços assim como no ramo da mineração. Antes de tudo, no entanto, australianos precisam de um pouco mais de autoestima. Depois disso talvez surjam o entusiasmo e a confiança de uma Califórnia antípoda.
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