LIVROS
A saga de Miriam Leitão
A jornalista reconstitui a história dramática de planos econômicos heterodoxos no marcante livro, a 'Saga Brasileira, A Longa Luta De Um Povo Por Sua Moeda'. Por Paulo Gurgel Valente*
Com 30 anos de jornalismo econômico, tendo recebido todos os prêmios mais merecidos, Miriam Leitão vem registrando no dia-a-dia, com sua importante coluna jornalística, entrevistas e reportagens em rádio e televisão, a história vivida da hiperinflação brasileira, as diversas experiências mal-sucedidas de combatê-la e finalmente a criação e implantação do Plano Real.
Nas décadas de 60 e 70, outro jornalista notável, Carlos Castello Branco, com sua imperdível “Coluna do Castello”, era a voz diária que narrou a evolução sinistra da ditadura e as muitas tentativas de reconquista das liberdades democráticas, a “abertura lenta, gradual e segura” dos últimos militares. Suas fardas dominaram o Palácio do Planalto de 1964 a 1985, transformado em quartel, onde as sucessões presidenciais eram decididas entre colegas de caserna, e a Constituição era uma “ordem do dia” ditada. Com sua constância de combater na imprensa, como podia, as armas com letras, Castello consolidou seus escritos na série editorial “Os Militares no Poder”, exercendo um papel semelhante ao atual de Miriam Leitão, no processo recente de estabilização da moeda.
Superada esta fase, a partir da redemocratização, o Brasil viveu a percepção de que a inflação era eterna e sempre crescente e a economia vivia sufocada pela falta de perspectivas. Como se sabe, o investimento econômico, capaz de aumentar renda e emprego, só floresce quando se alcança alguma garantia de estabilidade. Neste contexto, a moeda nacional, do Cruzeiro até o Cruzado Novo, era desacreditada, um alicerce ruim para o desenvolvimento e o resgate da dívida social. Confirmava-se que o Brasil estava condenado a ser o “País do Futuro”, que Stefan Zweig preconizara na década de 40. Futuro, porém, que nunca chegava.
As funções da moeda, como ensinam os economistas, são de reserva de valor, unidade de conta e meio de pagamento. Naquele ambiente inflacionário, foram anuladas as duas primeiras, pois ninguém guardava a moeda nacional, senão títulos do governo indexados diariamente, e as transações e contratos tinham como referência as ORTNs/OTNs.
Miriam Leitão vem reconstituir esta história dramática de planos heterodoxos, nesta trincheira diária, que resultou no marcante relato neste livro recém lançado, a “Saga Brasileira, A Longa Luta De Um Povo Por Sua Moeda”.
Perguntará o leitor o porquê de livros sobre a História, seja da redemocratização ou sobre a estabilização da moeda. A resposta é simples: sempre haverá quem queira se aventurar como ditador, não precisamos ir longe, basta um rápido olhar sobre nossa vizinhança latino-americana. E quanto à estabilidade monetária, desde a criação da moeda, nos tempos medievais, sempre houve um príncipe que tentou reorganizar as finanças públicas cunhando moedas com menos peso ou com outros metais mais baratos do que ouro e prata.
Mas não é preciso voltar tão longe, no tempo e no espaço, pois o Brasil de 2011 revive um surto inflacionário, muito aquém, até o momento, da experiência anterior. A principal causa deste retorno estaria no excesso de gastos públicos em 2010, para eleger, “a qualquer custo” um sucessor presidencial em ambiente favorável de bonança e “crescimento econômico”.
A motivação atual de manutenção do poder, portanto, não está longe dos anseios de sucessão da época militar, daí a necessidade de se ler e reler a História, como nos proporciona Miriam Leitão com seu livro “Saga Brasileira”, oportunamente lançado pela Editora Record.
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