CRISE
À beira do precipício europeu
Indecisão de políticos europeus contribuiu para contágio da crise na Europa, que agora chega às grandes economias
Por mais de um ano, o drama da dívida da zona do euro vem se espalhando de um lugar para outro. Primeiro foi a Grécia (que ocupou a posição central), depois a Irlanda, em seguida Portugal e, na sequência, novamente a Grécia. Em todas as vezes, políticos europeus reagiram da mesma maneira: com indecisão, nervosismo e negativas, seguido por um mal elaborado plano de resgate aos 45 minutos do segundo tempo.
Nesta semana, os frutos desse comportamento vieram à tona. Os mercados financeiros se voltaram contra a Itália, a terceira maior economia da zona do euro, numa velocidade alarmante. Os pagamentos dos títulos italianos de dez anos dispararam em quase 1% em dois dias: no dia 12 de julho eles chegaram a 6%, seu valor mais alto desde a criação do euro, e a bolsa de valores de Milão atingiu seu nível mais baixo nos últimos dois anos. A crise claramente atingiu um novo patamar. Antes confinada às pequenas economias periféricas da Grécia, Irlanda e Portugal, ela se aproximou da Espanha e atingiu um dos gigantes da zona. Todos os membros, especialmente a Alemanha, têm pela frente uma escolha difícil.
A Itália tem a maior dívida pública da Europa e a terceira maior do mundo, avaliada em €1.9 trilhão, equivalente a 120% de seu PIB. Essa dívida é três vezes maior que a da Grécia, Portugal e Irlanda juntos – e muito maior que os € 250 bilhões da Unidade de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF), o mecanismo de resgate da zona do euro. Uma moratória teria consequências catastróficas para o euro e a economia mundial. Ainda que o resultado mais provável, por enquanto, seja apenas um período de turbulência no mercado italiano de títulos, isso certamente irá fazer com que os investidores fujam da Europa, o que dificulta a recuperação do continente.
Em Bruxelas, Frankfurt e Berlim, os eurocratas, o Banco Central Europeu e a chanceler alemã Angela Merkel tentaram – em vão – combinar dois objetivos contraditórios: evitar a todo custo a moratória grega, ao mesmo tempo em que evitam transferências diretas dos países ricos para a periferia da zona do euro.
A indecisão sobre o assunto não é fruto de medo dos riscos, mas sim de profundas divisões entre os países da zona do euro, que não conseguem chegar a um acordo sobre quem deve arcar com os custos da crise: seriam os credores (por meio de uma diminuição dos valores) ou endividados (por meio da austeridade) ou os alemães (por meio de transferências aos países do sul)? Eles também não se decidiram se a resposta a longo prazo é a união fiscal ou não. Nesse cenário, investidores estão reticentes, tentando adivinhar o quão grande podem ser os danos. Se os europeus estão tão atrapalhados com os problemas da pequena Grécia, não é surpresa que os investidores estejam tão apavorados com os dramas econômicos da grande Itália.
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