ROBÓTICA
Os desastres nucleares e a indústria robótica
Apesar da sofisticação tecnológica do Japão, robôs usados em Fukushima foram importados. O que levou o governo a tomar essa atitude?
No hall de entrada do departamento de engenharia da Universidade de Tohoku, no Japão, está um bonito robô amarelo com garras e marcas de tratores. A máquina, construída graças às enormes verbas públicas disponibilizadas, tem como objetivo lidar com as catástrofes naturais.
De acordo com Satoshi Tadokoro, especialista em robótica da universidade, ele é um dos robôs de um grupo financiado pelo governo após o acidente nuclear em 1999 que matou dois trabalhadores. Os robôs podem executar trabalhos de emergência quando os níveis de radiação forem muito altos para os humanos. Útil, especialmente neste momento. É o que a maioria das pessoas irá pensar. Seria, se o robô não tivesse terminado em uma colônia de férias para crianças.
Desde 11 de março, quando um desastre destruiu a usina nuclear de Fukushima, tornou-se claro que grande parte dos esforços para aprimorar robôs foram em vão. Os robôs japoneses podem tocar violinos e construir carros, mas os únicos que estão trabalhando no maior desastre natural da história do país foram fabricados no exterior. Como por exemplo o PackBot, previamente utilizado no Afeganistão, feito pela iRobot, empresa com base em Massachussetts, nos EUA.
As razões para o uso dessa ajuda singular explicam porque o acidente nuclear, causado pela tsunami, tem sido exacerbado por uma série de políticas públicas fracassadas. A Tokyo Eletric (Tepco), detentora da usina de Fukushima, tem jurado que seus registros de segurança são exemplares. Esta mitologia de segurança tem sido utilizada para contornar a oposição à energia nuclear no país. O governo, a mídia e o público em geral abraçaram a alegação.
Isso também significa que o governo não conseguiu garantir uma preparação adequada para os desastres naturais. Apesar de terem sido eficazes na elaboração de uma mitologia de segurança, os japoneses não souberam construir conhecimentos em determinadas áreas, como a robótica. Por isso, a Tepco foi autorizada a tratar com desprezo os robôs construídos com o dinheiro público. Os fabricantes de robôs comerciais, como o Tmsuk, instalados no sul do Japão, também dizem que foram rejeitados para o trabalho.
Antes mesmo do dia 11 de março, as decisões sobre qual robô usar para resgates eram feitas ao acaso. Especialistas japoneses em robótica dizem que os robôs norte-americanos foram usados em parte devido às pressões do ministro do Exerior, como gratidão ao apoio dos Estados Unidos após a tsunami.
Os robôs japoneses, como o Quince, construído por Tadokoro e o Instituto de Tecnologia Chiba, podem ser ao menos tão bons quanto os norte-americanos. Quince está sendo testado para ver se é capaz de operar em Fukushima. Mas não antes da indústria robótica parecer incapaz e despreparada – mesmo que a real culpa pelo acidente nuclear recaia sobre a Tepco e o governo.
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