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Investimento Estrangeiro Direto gera suspeitas

domingo, 29 de maio de 2011

ECONOMIA

Investimento Estrangeiro Direto gera suspeitas

Para FMI, modalidade de investimento pode estar sendo usada para driblar taxação no Brasil

O Fundo Monetário Internacional (FMI) engrossou o grupo que suspeita que o Investimento Estrangeiro Direto (IED) esteja sendo utilizado como instrumento para os investidores estrangeiros driblarem a taxação sobre o ingresso de capitais no Brasil. E indicou que o governo brasileiro poderá tentar, de alguma forma, estender os controles de capital a essa modalidade.
“Para mim, há números suspeitos do IED”, disse na última sexta-feira, 27, Olivier Blanchard, economista-chefe e diretor do Departamento de Pesquisa do FMI, em seminário no Rio. Ele observou que “o IED está crescendo e, por coincidência, é excluído do imposto; espero que seja IED de verdade, mas talvez não seja; então o meu palpite é que o próximo passo será o de estender a rede de taxações e incluir alguma forma de IED, talvez até todo o IED”.
O IED é normalmente isento de impostos ou medidas de controle de capital, por ser considerado o melhor tipo de fluxo, já que é aplicado no setor produtivo e tipicamente vem para o longo prazo.
Blanchard, que se mostrou favorável aos controles de capital, comentou ainda, sobre a possibilidade de o Brasil estender os controles de capital ao IED. “Nunca diga nunca. Nós veremos, eu acho que eles vão distinguir entre várias formas de IED”. Para ele, é preciso “tentar adivinhar o que será que o setor privado do outro lado, vai fazer, e estar preparado”.
A preocupação mostrada pelo FMI também ocorre no ministério da Fazenda. O governo vem acompanhando com atenção o ingresso de dólares por meio de IED, que não tem incidência do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), com a suspeita de que esse dinheiro poderia estar entrando na verdade para operações no mercado financeiro, especialmente de renda fixa, o que caracterizaria fraude fiscal e cambial.
Essa inquietação do governo, que também é compartilhada por alguns integrantes do mercado financeiro, surgiu por causa do forte fluxo nesta rubrica no início do ano. De janeiro a abril, o saldo de IED foi de US$ 22,98 bilhões, acumulando em 12 meses o saldo de US$ 63,68 bilhões. Na última quinta, no próprio evento do FMI, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou uma nova projeção para o indicador este ano: US$ 65 bilhões, volume bem acima dos US$ 55 bilhões atualmente projetados pelo BC.
Procurado após as declarações do economista-chefe do FMI, o Banco Central disse não ver indícios de irregularidades nos ingressos de IED. A autoridade monetária argumenta que o IED está sujeito a um registro específico, que serve de referência para as empresas depois fazerem remessas de lucros e dividendos ao exterior.
O BC entende que o registro feito no IED é bastante consistente, com base não só em uma declaração, mas também em um contrato de câmbio. Além disso, o BC trabalha com um cadastro prévio de empresas investidoras e receptoras dos recursos. Como a maior parte desse tipo de operação tem valores superiores a US$ 10 milhões, são mais fáceis de serem acompanhadas.
Ainda assim, o próprio BC já reconheceu que não tem controle do que ocorre com esses recursos depois que eles entram no País. Em março, o chefe do departamento econômico do BC, Tulio Maciel, admitiu que o dinheiro entra no capital da empresa, na tesouraria, e que não há como se acompanhar como ele é utilizado. Maciel explicou também que, se a empresa quiser fazer a repatriação do IED, basta reverter a operação e fazer a declaração e o registro no BC.
Ou seja, se um grande investidor quiser entrar no País comprando mais de 10% das ações de uma empresa (o que já configura IED) e sair pouco tempo depois, registrando como retorno de IED, pode fazê-lo, driblando o IOF sobre capital estrangeiro incidente sobre renda fixa (6%), ações (2%) e empréstimos externos de até dois anos (6%).
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