EDUCAÇÃO
Quando ensinar às crianças?
Pesquisadores constatam que ensinar crianças pode fazê-las não descobrir o mundo
Os professores devem dizer aos alunos como as coisas funcionam ou deixá-los descobrir por conta própria? Este é um dos debates mais antigos na área educacional. Contar às crianças as “verdades” sobre o mundo pode ajudá-las a aprender mas rápido, entretando pode levar à suposição que o ensino acabou, porque se houvesse mais a aprender, o adultado teria ensinado.
Verdade ou mito? Um estudo realizado por Elizabeth Bonawitz, da Universidade da Califórnia, e Shafto Patrick, da Universidade de Louisville, mostra que é verdade. Os pesquisadores mostraram um novo brinquedo a um grupo de cerca de 85 crianças entre quatro e cinco anos, durante uma visita a um museu. O brinquedo parecia um emaranhado de canos coloridos, e era capaz de realizar uma série de atividades. A dupla queria descobrir se a maneira como as crianças brincavam dependia da forma como eram instruídas pelos adultos.
Um primeiro grupo recebia o brinquedo e uma introdução estritamente pedagógica. “Este é o meu brinquedo. Eu vou mostrar como ele funciona”. E o pesquisador retirava um tubo amarelo de dentro de um tubo roxo, criando um barulho. “Viram isto? É assim que meu brinquedo funciona”. E repetiam a explicação.
O segundo grupo começava a receber as instruções, mas o pesquisador a interrompia logo após o barulho, dizendo que precisava ir embora. O terceiro grupo viu a pesquisadora ativar o som como se fosse um acidente. Por último, o quarto grupo apenas recebeu o brinquedo sem nenhuma apresentação. “Nossa, viu este brinquedo? Olha isto”.
Assim como o barulho, o brinquedo também possuía um botão que ativava uma luz, um teclado que tocava notas musicais, e um espelho de inversão, dentro dos variados tubos. As crianças ficaram com os brinquedos e foram orientadas a avisar ao experimentador quando terminassem de brincar. A interação entre as crianças, pesquisadores, instrutores e brinquedos foi gravada.
Os vídeos de cada criança foram repassados a um assistente de pesquisa que não conhecia o propósito do estudo. O assistento precisou analisar o tempo total da brincadeira, o número de diferentes ações que a criança realizou, o tempo gasto com o barulho e o número de outras funções que a criança descobriu.
O resultado? As crianças do primeiro grupo passaram menos tempo brincando (119 segundos). Os outros grupos gastaram 180 segundos, 133 segundos e 206 segundos respectivamente. O primeiro grupo experimentou quatro ações diferentes, em média. O segundo experimentou 5.3 ações, o terceiro 5.9 ações e o quarto 6.2 ações. O mesmo aconteceu com o número de funções, além do ruído, que as crianças descobriram. Em média, o primeiro grupo descobriu 0,7 funções, o segundo 1,3 funções, o terceiro 1,2 funções e o quarto 1,2 funções.
A conslusão dos pesquisadores é que, no contexto de brinquedos com funções desconhecidas, uma explicação prévia certamente inibe a exploração e a descoberta. Uma generalização disto seria um tanto quanto ambiciosa. Mas, a pesquisa sugere que mais investigações na área possam ser uma ótima ideia.
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